Tite chega aos 100 dias de governo sem previsão de quando deixará o cargo
Prefeito em exercício em São Caetano acredita que José Auricchio Júnior conseguirá reverter sentenças desfavoráveis na Justiça para tomar posse
- Tite Campanella seleciona quadros técnicos para compor direção da Câmara.
Foto: Divulgação
- Por: Gislayne Jacinto
- Publicado em: 10/04/2021
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Prefeito em exercício em São Caetano acredita que José Auricchio Júnior conseguirá reverter sentenças desfavoráveis na Justiça para tomar posse
O prefeito em exercício de São Caetano, Tite Campanella (Cidadania), chega aos 100 dias do governo diante do imbróglio na Justiça Eleitoral que ainda não definiu se o prefeito eleito José Auricchio Júnior (PSDB) poderá assumir o cargo. Em entrevista exclusiva ao ABCD Jornal, Tite diz acreditar que o tucano conseguirá reverter sentenças desfavoráveis para tomar posse do quarto mandato na cidade. O chefe do Executivo fala da mudança em sua rotina depois que assumiu o comando do Palácio da Cerâmica e coloca seu ponto de vista sobre pandemia e abertura do comércio. Leia a íntegra da reportagem:
ABCD JORNAL – Com relação a esse imbróglio jurídico que envolve a eleição de São Caetano que está sub judice, qual sua avaliação e quanto acredita que ainda permanecerá no cargo de prefeito?
Tite Campanella – Não sei, não tem como avaliar, depende da Justiça, é outro poder, nós não temos como ter controle com relação a isso, enquanto essa situação não for definida a gente continua trabalhando com a mesma tranquilidade, determinação como se não tivesse nada pendente. Tem que continuar trabalhando e é assim que a gente vai tocar até a data limite que a Justiça colocar aqui pra gente.
ABCD JORNAL – Caso o prefeito eleito em São Caetano, José Auricchio Júnior, não consiga reverter o indeferimento do registro da Justiça e a cidade tenha novas eleições, o senhor pretende sair candidato?
Tite Campanella – Não é pretender sair candidato. Em primeiro lugar, eu acho que o Auricchio, que tem o registro de candidatura indeferido, assumirá a cadeira novamente. Caso tudo dê errado, o nosso grupo político que é capitaneado pelo Auricchio vai definir um novo candidato e essa candidatura é uma construção. Nós temos grandes e bons nomes com muita viabilidade dentro desse grupo eu sou só mais um deles. E a partir disso, decidiremos quem será o candidato.
ABCD JORNAL – Quais são os nomes cotados para uma eventual eleição?
Tite Campanella – Tem muitos nomes, não vou citar, pois vou acabar omitindo alguém. Mas se olhar dentro do nosso grupo político, a nossa base na Câmara e o nosso secretariado têm grandes nomes. Então, não vou citar, pois posso acabar sendo injusto.
ABCD JORNAL – O senhor e o Aurichio se falam com frequencia?
Tite Campanella – Sim, somos amigos, porém ele não interfere em nada da administração pública, no entanto, sempre que preciso recorro a ele pra gente conversar.
ABCD JORNAL – Como você avalia a oposição na cidade?
Tite Campanella – Normal, alguns desses opositores foram vereadores comigo, nós convivíamos na Câmara de uma forma muito respeitosa mesmo tendo pontos de vista muito diferentes. Eu acho muito bom ter oposição, pois não gosto de unanimidade e não acho que isso seja bom para a cidade, por enquanto, não tenho problema nenhum até por que, pelo volume de trabalho, não tenho tempo para conversar e estender um dialogo com a oposição .
ABCD JORNAL – Como o senhor define esses 100 dias do seu governo?
Tite Campanella – Eu os defino com muito produtivos, um aprendizado enorme, apesar de a gente conhecer bastante da maquina pública, está sendo um aprendizado muito grande e também uma realização pessoal muito grande também, porque acho que todo mundo que faz política tem esse desejo de alcançar o cargo máximo do município, que é cargo de prefeito. É muito trabalho e parafraseando o treinador do palmeiras “Eu sou um pai pior, um marido pior, um amigo pior mas acho que sou um administrador melhor”, depois desses cem dias dedicado do jeito que me dediquei.
ABCD JORNAL – O que mudou na sua rotina?
Tite Campanella – Mudou completamente. Eu, por exemplo, tinha maior disponibilidade para estudar com meus filhos e não estou conseguindo mais fazer isso, chego em casa muito tarde.
ABCD JORNAL- Qual a idade dos seus filhos?
Tite Campanella – Tenho uma de 40 anos, uma de 24, uma de 22, uma de 15 e um de 7 anos. Com os que estudo são os de 7 e 15. No entanto, mais com o de 7 que foi alfabetizado durante a pandemia .
ABCD JORNAL– Seus filhos reclamam de não poder ir para escola por conta dessa pandemia?
Tite Campanella – Eles são muito pequenos, isso é até um motivo de preocupação que temos com as crianças que é como se fosse uma nova volta às aulas; A criança quando vai pra escola já é um momento difícil, e eles esqueceram tudo depois do ano passado que nós tivemos, então, tem que se recomeçar tudo outra vez. E vai ser pior esse ano aqui, pois não estou vendo muita perspectiva de volta.
ABCD JORNAL – O senhor acha que as aulas presenciais voltam neste ano?
Tite Campanella – Eu acho que volta, mas é difícil com o alto índice de mortes. Nos últimos dias foram em média 4 mil mortos por dia no país. É um número absurdo e muito alto. Mesmo vacinando, estamos com grande parcela da população vacinada e outra grande parcela contaminada e que esteve em contato com o vírus e teoricamente imunizada e mesmo assim o número de mortes não diminui. Nós tivemos aqui em São Caetano, na semana passada, dois dias sem nenhuma morte e depois batemos o recorde de mortes 12, e posteriormente 9 e 10 mortes. Eu estava vendo uma reportagem de que o município de Araraquara estava há 2 dias com morte zero. Nós também estávamos e depois veio tudo isso. Na verdade, nós não sabemos as medidas que funcionam e quais não funcionam para o combate a pandemia.
ABCD JORNAL – Comerciantes têm feito protestos no ABCD para a reabertura dos estabelecimentos. Como observa essa situação? O senhor é a favor da reabertura do comércio?
Tite Campanella – Defendo sim, e sempre defendi , quando nós estávamos com a nossa estrutura hospitalar em 60% e a gente estava na fase vermelha, eu fui para a Justiça pedir que retornássemos para a fase laranja pra gente poder dar um pouco mais de flexibilidade para o comerciante trabalhar. Eu acho muita hipocrisia que muitas pessoas que ficam postando “fica em casa” e não sai do shopping e não deixaram de consumir nada até hoje. Só que nós temos uma preocupação muito grande hoje com relação à pandemia e pra combater a pandemia. Os nossos maiores problemas são as aglomerações. Eu não consigo ver hoje em um salão de cabelereiro de bairro ou em uma loja de calçados, ou uma sapataria cause aglomeração. Não existe aglomeração. O que faltou pro Brasil foi um pouco de maturidade pra discutir a forma mais próxima de sair dessa pandemia e se manter o padrão mais próximo de normalidade de antes. Quando defendo a volta às aulas, defendo que as crianças sejam criadas em um ambiente de máxima normalidade possível, não em um ambiente paranoico, de medo. Veja bem: essas crianças vão crescer, que futuro esses adultos terão , de que maneira eles enfrentarão a vida? Eles estão sendo criados em uma cultura do medo e a gente tem que tomar cuidado para que essa cultura não prevaleça. Logo é obrigação do gestor público ter esse tipo de preocupação. Então, faltou esta união buscando o bem da maioria da população, o que a gente tem hoje na maioria do Brasil, infelizmente, é uma briga política, um vírus sendo utilizado em uma pandemia. São mortes sendo utilizadas em uma briga política é isso que nós não devemos permitir que aconteça. Então, você pode viver, trabalhar dentro de certas regras e regulamentos sem expor ninguém a um perigo. Pode-se ter combate à pandemia e atividade econômica ao mesmo tempo.
ABCD JORNAL – Então, o senhor defende a abertura dos estabelecimentos desde que não haja aglomeração?
Tite Campanella – O nosso grande problema é aglomeração, então você pode, por exemplo, ir a missa ou ir ao culto, sem aglomeração, você pode fazer tudo sem aglomeração. O que nos incomodou muito desde o princípio foi essa coisa, então agora a gente vai ter que fechar o comércio às 5 horas da tarde, mas o que muda? Qual é a lógica envolvida? Onde é que está a ciência envolvida nisso? O vírus até as 10 horas da noite não pega? E depois das 10h sim? O presidente da república falava uma coisa, o governador outra e o prefeito queria fazer outra. Em alguns casos até em busca de benefícios políticos. A população está com medo, a população exige medidas para se proteger. Ela espera isso dos prefeitos, que é o elo mais próximo que eles têm, mas em outra parte da população você tem pessoas que querem e precisam trabalhar. Você acompanhou o prefeito de Ribeirão Pires, o Clovis Volpi, meu amigo, pedindo lockdown na região. Nós participamos de uma reunião no Palácio dos Bandeirantes com o Governador. Ele estava bravo por não ocorrer o fechamento total e hoje em dia ele liberou várias coisas na cidade. Por que você vê protestos acontecendo? Porque que as pessoas não conseguem entender a lógica nesse processo. Veja por que eu sou contra o fechamento das coisas. Eu precisei fechar a Av. Kennedy para as atividades físicas e recreativas e você não sabe como isso é ruim pra mim, mas eu precisei fechá-la por causa de aglomerações.
ABCD JORNAL – Com relação ao Volpi , você é a favor da atitude dele?
Tite Campanella – Não achei nem boa e nem ruim, o que eu achei é que em um curto espaço de tempo que ele virou completamente a chave, pra quem está acompanhando não é uma critica a ele, mas como prefeito eu sei o tanto que esse papel é difícil, o quanto somos pressionados para tomar inúmeras ações. Eu acho que o grande mérito do prefeito, eu estive conversando com o Orlando Morando, na semana passada, eu gosto de conversar com eles pessoalmente para colocarmos ideias na mesa ;eu sei qual o tamanho da pressão eles sofrem para fechar e para abrir. O Orlando tem protestos em frente a casa dele todos os dias , mas a gente não pode se deixar levar pela emoção, você não está ali pra externar a sua experiência própria ou sua emoção pessoal , você está ali pra administrar pra toda uma comunidade, ao mesmo tempo que você tem uma pessoa que perdeu um ente querido e toda perda ela é irreparável, triste e difícil, por outro lado você tem o pai de família que não está conseguindo trabalhar e colocar comida na mesa dele , você pega, por exemplo, um garçom, aquele cara que viveu a vida inteira como garçom, é difícil, então você tem que ter olhar pra todos, portanto suas mudanças não podem ser bruscas elas têm que ser moduladas e tranquilas até pra você transmitir pra população que você sabe o que está fazendo. Nossos índices de ocupação hospitalar melhoraram consideravelmente depois da última semana que nós fizemos barreiras sanitárias na cidade, nós estamos hoje com 66% de ocupação de leitos de enfermaria, e vai reduzir cada vez mais esses números. E é engraçado que nem é tanto mérito nosso, é uma onda que acontece , e a contaminação vai se dando por ondas , e isso está acontecendo em todas as cidades do ABCD, tanto na rede pública quanto na particular , grande parte das pessoas que estão internadas na rede particular são de fora da cidade . Então, todos os índices de internação estão caindo uniformemente, então nem é mérito da administração e sim a forma de contaminação pelo vírus , mas eu ainda não me sinto confortável de pleitear uma flexibilização, isso ainda precisa diminuir muito. O que não tem lógica é eu estar com a UTI em 40% da ocupação e manter o shopping inteiro fechado ou o restaurante só pode funcionar até as 2 horas da tarde.
ABCD JORNAL – O senhor, então, não tem um prazo para reabrir o comércio?
Tite Campanella – Eu sigo o plano do governo do Estado. Quem tem o poder efetivo na vida de todo mundo é o governo do estado. Se o governador do estado me manda fechar as igrejas, se ele tem o poder de fechar, eu não tenho o poder de abrir; se ele manda fechar a cidade 7 horas da noite eu não posso mandar fechar as 9h.
ABCD JORNAL – Qual o legado o senhor deixará para a cidade?
Tite Campanella – Basicamente, eu acho, que se eu for falar alguma coisa do que a gente fez em 100 dias, primeiro é a lealdade com esse grupo político que eu faço parte e leal a minha cidade , segundo, a austeridade, pois estamos cuidando do cofre da cidade pra enfrentar esse ano muito difícil, e austeridade, em algum momento, você vai afetar a vida de alguém ou reduzir e afetar um contrato, uma demissão; e o terceiro legado é de muito trabalho, pois, se o Auricchio voltasse amanhã, sairia daqui com uma sensação de missão cumprida. F fiz o meu melhor não deixando nada pra depois.