Ford mantém decisão de fechar unidade de São Bernardo
Sindicato quer garantia de emprego nas negociações de venda; trabalhadores mantém fábrica parada até nova assembleia marcada para esta quinta-feira
- Assembleia de mobilização com os trabalhadores na Ford realizada nesta terça.
Foto: Adonis Guerra/SMABC
- Por: Gislayne Jacinto
- Publicado em: 12/03/2019
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Sindicato quer garantia de emprego nas negociações de venda; trabalhadores mantém fábrica parada até nova assembleia marcada para esta quinta-feira
Em assembleia realizada na manhã desta terça-feira (12/03), o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou aos trabalhadores que a decisão de fechar a unidade de São Bernardo foi mantida pela direção mundial da Ford em reunião realizada com dirigentes da entidade na última quinta (07/03), na matriz da empresa, em Dearborn, EUA. A comitiva do Sindicato também teve a confirmação de que três grupos estão interessados na compra da fábrica. “Com esse posicionamento, deixamos claro que temos de estar presentes na mesa de negociação. A partir de agora estamos em luta pela manutenção dos empregos nesta planta. Não importa quem é o patrão. O patrão vai, mas os empregos ficam”, destacou o presidente do Sindicato, Wagner Santana.
O dirigente disse aos trabalhadores que a direção da Ford não revelou quem são os possíveis compradores. “Para nós não importa que seja brasileiro, internacional, importa que se comprometa com os empregos. Desde o início nosso objetivo é dar garantia aos trabalhadores que estão aqui dentro. O patrão desistiu, mas nós não desistimos. Não permitiremos que um acordo de compra e venda da Ford seja feito sem que inclua a garantia de que estes trabalhadores continuarão aqui.”
O coordenador do Comitê Sindical (CSE) na Ford, José Quixabeira de Anchieta, o Paraíba, detalhou como foi a conversa com a direção global. “Apresentamos vários argumentos para a manutenção da planta. Reforçamos a versatilidade da mão de obra, já que pelo acordo feito com o Sindicato aqui estão os únicos trabalhadores em montadoras que atuam tanto na linha de automóveis como na de caminhões. Destacamos também o quanto nossa fábrica é moderna, nosso nível de automação, e também lembramos o impacto social que representaria o fechamento. Mas a resposta foi que a empresa não recuaria da decisão. Continuaremos lutando pela fábrica, mas se realmente for acontecer a venda, queremos estar na discussão de possíveis compradores”.
Rafael Marques, ex-presidente do Sindicato e trabalhador na Ford, também fez parte da comitiva que foi aos Estados Unidos. “A direção não tinha resposta aos argumentos que apresentamos. Ficou claro que eles cometeram erros de estratégia na América do Sul, que a direção local não fez a leitura correta do mercado brasileiro e argentino ao definir o tipo de projeto a ser produzido no Brasil. Caminhões é um acerto da Ford no Brasil, sempre foi. Não conseguimos entender a decisão de abandonar esse produto, esse mercado e esses trabalhadores”, ressaltou.
Marques, que atualmente preside o Tid Brasil (Instituto Trabalho Indústria e Desenvolvimento), defendeu a importância de manter o movimento de resistência, buscando pautar o tema – incluindo a situação em que se encontra a indústria brasileira como um todo – no governo e na opinião pública, como forma de preservar os empregos da Ford e também o emprego industrial no Brasil.
A deputada federal Gleise Hoffman, presidente nacional do PT, também participou da assembleia e defendeu que o presidente da República, Jair Bolsonaro, deveria receber uma comissão do Sindicato antes de seu encontro com presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quer deve ocorrer no dia 19 de março.
Wagner Santana concordou com a sugestão: “Para um governo que defenda os interesses da população, o fechamento de uma unidade desse porte deveria ser uma das prioridades nesse encontro. Ele deveria levar ao presidente dos EUA, país sede da Ford, a indignação do governo brasileiro, que tanto incentivo deu a essa empresa. Foram mais de 7 bilhões de reais em incentivos fiscais nos últimos cinco anos. Isso significa dinheiro público, patrimônio de cada brasileiro e brasileira. Esse deveria ser o comportamento do governo numa conversa com o presidente Trump”, reforçou Wagnão.
Ao final da assembleia, os trabalhadores decidiram manter a mobilização iniciada em 19 de fevereiro, data em que a empresa anunciou ao Sindicato o fechamento da unidade. A paralisação continua até esta quinta-feira (14/03), quando os metalúrgicos terão nova assembleia em frente à fábrica.