Estudo alerta que a falta de saneamento básico afeta a vida da Mulher
Mais dias afastada do trabalho por doenças, renda menor e desempenho escolar impactado são algumas das consequências destacadas em pesquisa
- Estudo mostra que que o acesso ao saneamento tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza.
Foto: Divulgação
- Por: Gislayne Jacinto
- Publicado em: 07/03/2019
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Mais dias afastada do trabalho por doenças, renda menor e desempenho escolar impactado são algumas das consequências destacadas em pesquisa
A falta de saneamento básico, principalmente da oferta de água tratada e da coleta e tratamento de esgoto, afeta a população brasileira prejudicando a saúde, o desempenho escolar e no trabalho e o desenvolvimento regional como um todo. Entretanto, o estudo “O Saneamento e a Vida da Mulher Brasileira”, revela que o acesso ao saneamento tiraria imediatamente 635 mil mulheres da pobreza, a maior parte delas negras e jovens.
A pesquisa também demonstra como a mulher é mais afetada em sua renda, educação, saúde e qualidade de vida. Realizada pela BRK Ambiental, em parceria com o Instituto Trata Brasil e apoio do Pacto Global, a pesquisa utiliza dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos Ministérios da Saúde, Educação e Cidades (pesquisa completa em www.mulheresesaneamento.com). A curadoria dos dados e as análises foram feitas pela consultoria econômica Ex Ante.
Teresa Vernaglia, presidente da BRK Ambiental, destaca que a pesquisa mostra a dupla jornada praticada pela maior parte das mulheres no Brasil e o peso que a falta de saneamento tem nessa rotina. “No Brasil é a mulher que cuida dos afazeres domésticos. É ela quem cozinha e é quem se ausenta do trabalho para levar o filho no posto de saúde. Portanto, a falta de saneamento afeta diretamente a sua vida em diversas esferas, com impactos inclusive na sua mobilidade socioeconômica. São informações impactantes dada a importância da autonomia financeira para a igualdade de gênero e para o empoderamento da mulher, previstos no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 da Agenda 2030 da ONU”, afirma. “Parte da transformação dessa realidade depende de investimentos e do compromisso das empresas com a universalização de água e esgoto”, completa Teresa.
A falta destes investimentos traz grandes consequências para a vida da mulher brasileira. Na idade escolar, as meninas sem acesso a banheiro têm desempenho estudantil pior, com 46 pontos a menos em média no ENEM quando comparadas à média dos estudantes brasileiros. O saneamento impacta ainda no ingresso ao mercado de trabalho, uma vez que o acesso à água tratada, coleta e tratamento de esgoto poderia reduzir em até 10% o atraso escolar da estudante. Outro dado impactante aponta que 1,5 milhão de mulheres não tem banheiro em casa e que essas brasileiras têm renda 73,5% menor em comparação às trabalhadoras com banheiro em casa.
Os números também mostram que a falta de acesso aos serviços de coleta e tratamento de esgoto é uma das principais causas de incidência de doenças diarreicas, que levam as mulheres a se afastarem 3,5 dias por ano, em média, de suas atividades rotineiras. O afastamento por esses problemas de saúde afeta principalmente o tempo destinado a descanso, lazer e atividades pessoais. Meninas de até 14 anos são as maiores vítimas desse quadro, com índice de afastamento por diarreia 76% maior que a média em outras idades (132,5 casos de afastamento por mil mulheres contra 76). Já no caso da mortalidade, o déficit de saneamento é mais perigoso para a mulher idosa, que corresponderam a 73,7% das mortes entre as mulheres sem acesso ao saneamento.
Mauá
O município de Mauá, localizado na região metropolitana de São Paulo aparece como um importante contraste nesse cenário que retrata a falta de oferecimento de condições básicas. Com o início de operação da Estação de Tratamento de Esgoto ocorrido em 2015 e a ampliação do Sistema Público de Esgotamento Sanitário de Mauá, a população da cidade passou a ter suporte diário de uma rede de esgoto responsável por coletar e afastar os efluentes gerados nas residências, escolas e comércios por meio de tubulações e transportar este material para o efetivo tratamento.
Hoje a cidade de Mauá se destaca como uma das cidades que mais avançou nos últimos anos, com 93% de coleta e 70% de tratamento de esgoto, o que coloca a cidade no rol dos poucos municípios brasileiros que conseguiram superar a falta de investimentos para o setor.
Com o avanço dos índices de coleta e tratamento de esgoto, o município de Mauá conta moderna estação de tratamento onde diariamente, mais de 50.000.000 de litros de esgoto são tratados antes de serem destinados novamente ao leito do Rio Tamanduateí.
Destaques da pesquisa
Veja abaixo dados da pesquisa que mostram, em diferentes aspectos, a situação da mulher brasileira e qual o impacto do saneamento básico e, principalmente, da falta dele em sua vida. Para saber mais sobre o assunto acesse www.mulheresesaneamento.com.br.
- A MULHER BRASILEIRA
- Aproximadamente 30% das mulheres com mais de 15 anos de idade têm filhos ou enteados menores morando em suas casas. Essas mulheres totalizam um contingente de 25,7 milhões de mães que auxiliavam nos cuidados de 42,4 milhões de filhos ou enteados.
- Segundo a PNADC, 83,3% das mulheres brasileiras com mais de 5 anos de idade se dedicam a trabalhos domésticos na própria moradia e 2,5%, nas casas de parentes. Na população masculina, essas frequências foram bem menores: de respectivamente 65,5% e 0,7%.
- 71,5% do tempo total dedicado a cuidados pessoais e trabalhos domésticos realizados em casa ou nas moradias de parentes é de incumbência das mulheres brasileiras e apenas 28,5%, dos homens.
- Para praticamente todos os segmentos de atividade e jornadas de trabalho, as mulheres receberam valores inferiores aos dos trabalhadores do sexo masculino. Em média, a diferença é de 22,9% a menos
- 21,325 milhões de mulheres e 20,028 milhões de homens estão abaixo da pobreza, totalizando 40,353 milhões de pobres (dado de 2016). Isso significa que a participação das mulheres nos pobres brasileiros era maior que a dos homens: 51,6% contra 48,4%, respectivamente.
- SAÚDE
- O afastamento das atividades rotineiras por diarreia ou vômito é um pouco mais alto na população feminina (52,8% do total), mas atinge homens e mulheres em proporções semelhantes. No entanto, o impacto na vida da mulher é maior, pois elas ficam 3,48 dias afastadas por ano, tempo 10% maior que os 3,15 dias em média dos homens.
- Com base nos dados da Pesquisa Nacional de Saúde, cuja última atualização foi em 2013, estima-se que naquele ano foram mais de 7,9 milhões de casos de afastamento por diarreia ou vômito entre as mulheres. Desse total, 45% dos casos foram graves o suficiente para deixar a paciente acamada e completamente impossibilitada de exercer suas atividades cotidianas.
- Estados com baixos índices de cobertura têm números de internação de mulheres por diarreia e vômito significativamente maiores quando comparados com Estados mais saneados. O Maranhão registrou 20 vezes mais internações deste tipo (7,9 a cada mil mulheres) do que o Estado de São Paulo (0,4 a cada mil). Quanto maior o acesso aos serviços de saneamento, menor a probabilidade de afastamento por doença gastrointestinal.
- EDUCAÇÃO
- Do total de jovens que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio em 2016, 2,423 milhões eram mulheres (56,8% do total) e 1,840 milhão eram homens (43,2%). O que primeiro fato que chama a atenção é o fato de que as mulheres tiveram notas em média inferiores à dos jovens da população masculina.
- Meninas sem acesso a banheiro têm desempenho pior, com 46 pontos a menos que a média dos estudantes no Exame.
- O atraso escolar de jovens meninas sem acesso a banheiro em casa é 7,3% maior que aquelas que têm banheiro.
- O estudo estima que o acesso à águatratada e a coleta e tratamento de esgoto poderia reduzir em até 10% o atraso escolar de uma estudante.
- RENDA
- A pesquisa revela que a ausência de banheiro na moradia reduz em 21,7% a remuneração média das mulheres
- Também mostra que trabalhadoras sem banheiro em casa ganham 73,2% a menos que as mulheres que tem banheiro. Esse índice é menor se a comparação for entre homens – homens sem banheiro ganham 65,3% a menos que os que tem banheiro
- Mulheres sem acesso à água tratada têm renda 37% menor que aquelas que têm acesso. O índice não é muito diferente com relação ao acesso a esgoto (renda 35% menor)
- A universalização do saneamento básico traria um acréscimo médio de renda de R$ 321,03 ao longo de um ano por brasileira. Isso representa, ao todo, mais de R$ 12 bilhões ao ano em termos de ganhos de renda das mulheres brasileiras.
- OS IMPACTOS DA UNIVERSALIZAÇÃO
- Os ganhos de produtividade resultantes da universalização dos serviços de saneamento e do aumento de renda a ela associado permitiriam que mais de 635 mil mulheres saíssem da pobreza.
- Dessas mulheres que deixariam a condição de pobreza, estima-se que 3 em cada 4 seriam negras e 6 em cada 10 pertencem às gerações futuras do país (têm menos de 19 anos).