De larvas na comida a falta de energia e água: alunos da Unifesp Diadema denunciam
Estudantes cumprem cronograma de ‘greve’ e pretendem dormir no campus para impedir que aulas da manhã de sábado aconteçam; universidade rebate críticas
- No primeiro dia de mobilizações, estudantes denunciaram falta de água, luz, transporte e larvas na comida.
- Por: Juliana Finardi
- Publicado em: 24/11/2023
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Estudantes cumprem cronograma de ‘greve’ e pretendem dormir no campus para impedir que aulas da manhã de sábado aconteçam; universidade rebate críticas
Falta de energia elétrica e de água, cancelamento de aulas, ônibus quebrados, deficiência de materiais de estudos, equipamentos sem manutenção e até larvas na comida servida no bandejão são algumas das reclamações apontadas pelos estudantes do campus de Diadema da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Foram estes problemas, além dos pedidos constantes de reforma e questionamentos ao orçamento destinado à unidade do ABC que levaram os alunos a decidirem por uma semana de paralisação, que começou nesta quarta-feira (22/11) e deve seguir até a próxima terça-feira (28/11), período em que os estudantes seguem uma programação completa de atos, rodas de conversa, confecção de cartazes e outras formas de manifestações. A definição saiu de uma votação com mais de 950 adesões contabilizadas em formato híbrido (online e presencial).
De sexta (24/11) para sábado (25/11), a ideia dos jovens é dormir na faculdade, impedindo as aulas da manhã de sábado. A intenção é aproveitar a oportunidade para definir os próximos passos da mobilização.
“Além de já terem encontrado larvas na comida e passado mal coletivamente, muita gente não consegue utilizar um crédito que compra uma vez ao mês porque o sistema do bandejão cai. Aí a pessoa não tem dinheiro e nem pode usar o crédito. Resultado: fica sem comer. Isso é um absurdo”, afirmou uma estudante que preferiu não se identificar por temer represálias.
Cursando o primeiro ano de licenciatura em Ciências, o aluno José Rafael de Lima da Silva, 22 anos, era um dos que comiam sempre no refeitório da faculdade, mas por ter ficado enjoado e sentir-se mal inúmeras vezes após as refeições, decidiu parar de consumir a comida da faculdade.
Além da melhora na qualidade do bandejão – fornecido por uma empresa terceirizada – , os alunos também reivindicam a instalação de uma cantina/lanchonete privada no campus como forma de alternativa à única opção de refeição disponível atualmente.
Outra questão levantada pelos estudantes é o que chamam de uma “divisão injusta” do orçamento destinado a cada um dos campi da universidade. “Não sei como acontece essa divisão, mas Diadema e outros, com exceção de São Paulo, ficam com as menores fatias da verba: 50% vão para o campus de São Paulo e as outras unidades dividem a outra metade. Gostaria muito de saber qual foi esse critério”, critica um aluno.
José Rafael também aponta a falta de uma quadra poliesportiva na unidade de Diadema. “Não temos uma quadra para os alunos e isso causa um impacto muito grande principalmente pelo lazer. Tanto para o pessoal do noturno quanto para o integral, ter uma opção de lazer, relaxar a cabeça e conseguir praticar um esporte é muito importante”, diz.
Os times que disputam campeonatos universitários treinam em quadras particulares financiadas pelos próprios alunos.
As respostas da universidade
A Unifesp informou ao ABCD JORNAL, por meio de nota, que a Reitoria e as pró-reitorias da Unifesp estão acompanhando as questões relacionadas ao campus Diadema em conjunto com a direção acadêmica e que há uma série de ações em curso (que congregam esforços de implementação no curto, médio e longo prazo).
A respeito das mobilizações dos alunos, a universidade diz que busca manter diálogo permanente com a comunidade acadêmica, respeitando as decisões tomadas em assembleia pelo movimento estudantil.
“Visando a resolução das questões pertinentes ao campus, foi realizada no último dia 17 de novembro uma reunião emergencial da Comissão Local de Alimentação, com a presença da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Políticas Afirmativas (Praepa). Além disso, foi proposta a criação de um grupo de trabalho de Infraestrutura para discutir os problemas apresentados pelos(as) estudantes. Em paralelo, a gestão da Reitoria continua com as negociações com o Governo Federal e parlamentares para ampliação do orçamento 2024”, diz a nota
Sobre a comida e as condições insalubres apontadas pelos estudantes, a Unifesp afirma que já existe um processo para licitação e contratação de um novo fornecedor de restaurante e cantina. “Além disso, a empresa atual foi penalizada pelo ocorrido, nos termos previstos em contrato.”
Ainda de acordo com a nota, a falta de energia ocorreu pela queima de equipamentos da cabine primária do edifício de acesso, provavelmente ocasionada por oscilação na rede externa, muito comum na região.
“Assim que identificamos a falta de energia, a empresa responsável pela manutenção da cabine foi acionada e as providências foram tomadas conjuntamente com a equipe técnica da universidade para que o problema fosse solucionado o mais rapidamente possível. Contratou-se um gerador adicional para restabelecer a energia do campus até que as peças pudessem ser adquiridas e o problema solucionado. No dia seguinte ao ocorrido, no período da noite, a energia estava restabelecida. Com relação a falta de água, houve a substituição do equipamento que bombeia a água para a caixa d’água e que apresentou defeito.”
Sobre o orçamento, a faculdade informa que é definido pela LOA (Lei Orçamentária Anual) e repassado pelo MEC (Ministério da Educação).
“A Distribuição do Orçamento para as Universidades até 2018 foi realizada conforme a Matriz Andifes, estabelecida por meio por meio do decreto presidencial nº 7.233, de 19 de julho de 2010 que dispõe sobre procedimentos orçamentários e financeiros relacionados à autonomia universitária. A partir de 2019 repetiu-se o orçamento executado nos anos anteriores. Tendo essa metodologia de recebimento do orçamento na Universidade, foi nomeado um Grupo de Trabalho composto por todos os diretores administrativos de todos os campi, os diretores de Gestão Orçamentária e Financeira e a Pró-Reitoria de Administração que, desde 2015, realizam os estudos, acompanhamento e planejamento de execução orçamentária da Universidade, de modo a garantir a eficiência do uso do dinheiro público na manutenção do funcionamento da Universidade.”
A respeito da quadra, a Unifesp informa, também por meio da nota, que há uma restrição orçamentária e que os recursos foram aplicados na construção do prédio de aulas, farmácia universitária e despesas urgentes para manutenção das unidades acadêmicas.
“Apenas poderemos prever a construção da quadra de esportes quando for apresentada a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2024 pelo Governo Federal com previsão de recursos de capital para Unifesp.”