Após se sentir ofendida, Carla Morando levará Luiz Fernando à comissão de ética
Deputada estadual escolheu a advogada Gabriela Manssur para conduzir o processo que pedirá cassação do mandato do petista e cobrará respeito às mulheres na Política
- Deputada estadual escolheu a advogada Gabriela Manssur para conduzir o processo que pedirá cassação do mandato do petista e cobrará respeito às mulheres na Política.
Foto: Gislayne Jacinto
- Por: Gislayne Jacinto
- Publicado em: 31/07/2023
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Deputada estadual escolheu a advogada Gabriela Manssur para conduzir o processo que pedirá cassação do mandato do petista e cobrará respeito às mulheres na Política
A deputada estadual Carla Morando disse nesta segunda-feira (31/07), durante entrevista coletiva à imprensa, que entrará com denúncia na Comissão de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) contra o deputado Luiz Fernando (PT) por se sentir ofendida com declarações “machistas” feitas pelo petista que a comparou a uma obra.
Carla escolheu para defendê-la a advogada Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saia, que desde 2011 é pioneiro na implementação de projetos sociais e políticas públicas sobre Direitos das Mulheres, e foi promotora de justiça especializada em Direitos das Mulheres. Um dos casos mais famosos que advogada atuou foi o que envolve João de Deus, líder espiritual que atuava em Goiás, e foi condenado por assédio depois que o Ministério Público recebeu mais de 500 denúncias de mulheres em vários países.
Durante a entrevista coletiva, Carla afirmou que permaneceu dez dias em silêncio após se sentir vítima de ofensas proferidas pelo deputado federal Luiz Fernando que em recente entrevista concedida ao Diário do Grande ABC declarou que a única grande obra do atual prefeito, Orlando Morando, foi “eleger e reeleger” a esposa, deputada estadual Carla Morando.
“Atuo na política fazendo o bem para as pessoas e contra qualquer forma de preconceito ou machismo. Tenho méritos como mulher e estou aqui para fazer política para todos e pelo bem de todos. Em especial, defendo os direitos de todas as mulheres e diante dessas declarações manifesto indignação porque o que ele fez atinge a todas nós mulheres, mães, filhas, cidadãs que lutam por uma sociedade melhor e são representantes do povo. Precisamos dar um basta na violência política contra as mulheres”, disse Carla Morando.
A parlamentar acrescentou que esse não é o primeiro pedido de comissão de ética que entra contra Luiz Fernando. Ela afirmou que em 2018, no primeiro mandato, ele também a ofendeu e, portanto, agora, seria reincidente.
“No meu primeiro mandato eu já sofri uma forma de machismo, como se eu não soubesse que eu estava fazendo no mandado que o meu marido me deu. Primeiro que meu marido não me deu o mandato, ele sempre me ajudou, mas insisto em dizer que tenho minhas qualidades, meus méritos como mulher. Estou aqui para fazer política em não para fazer o que o Orlando mandou. Fui eu que recebi os votos e desde o início trabalhei muito com amor e vontade de fazer o bem e fui reeleita com o dobro de votos. Fiquei quieta nestes dez dias e agora estou me manifestando contra essa nova agressão”, afirmou Carla ao acrescentar que o primeiro pedido foi arquivado na Assembleia Legislativa
“Agora chega, não gosto de ser tratada como uma coisa, um objeto. Não vou mais admitir nenhum homem pormenorizar o que é feito por uma mulher. Esse tempo foi para estudar como eu faria uma representação ou entraria na defesa não só minha, mas das mulheres”, disse completou.
Advogada
Escolhida pela deputada para tratar do caso, a promotora Gabriela Manssur disse que pedirá a cassação do mandato de Luiz Fernando.
“Eu defendo os seus interesses, Carla, não só por ser você, mas por defender os direitos das mulheres porque quando atacam uma de nós, todas nós somos atingidas. Temos capacidade e legitimidade para ser o que quisermos ser e estar onde queremos estar. A Carla foi votada, votação legitima e significativa, com grande peso, a mais bem votada de São Bernardo, extremamente respeitada pelo sistema de justiça também, extremamente competente. O lugar da deputada Carla e de todas as mulheres que querem é estar na política com respeito e dignidade”, disse a advogada.
“Nenhuma mulher gosta de ser tratada como objeto e nenhuma mulher merece isso. Merecemos respeito e sermos tratadas como cidadãs de primeira categoria principalmente por aquelas pessoas que cumprem um cargo eletivo que deveriam ser os precursores do combate à violência contra a mulher, os exemplos para a sociedade e não as pessoas que comentem violência. Nós mulheres que somos mães quando somos atacadas em nossa honra, em nossa dignidade por termos escolhidos um caminho e neste caso o caminho da política nos sentimos culpadas pelo ataque aos nossos filhos que indiretamente são abalados emocionalmente. A deputada Carla tem dois filhos adolescentes, um menino e uma menina, que certamente estão sentindo a dor de ver a mãe ser comparada com uma obra em jornal”, completou.
Concluindo, a advogada ressaltou que serão tomadas todas as medidas cabíveis para que a justiça seja feita diante do caso que repercutiu na imprensa e significa mais um ataque machista entre outros que integram os altos índices de violência contra a mulher no país contribuindo para o aumento significativo de agressões que fazem com que as mulheres se sintam afastadas e alijadas do meio político por sofrerem violência. “Isso não atinge só as mulheres, mas toda a sociedade porque há falta de representatividade das mulheres no sistema político, no sistema de justiça, nos cargos de poder e liderança no país”, explicou.
Arquivamento
Tanto Carla quanto a advogada avaliaram que por não ter sido punido no primeiro outro o deputado teria se sentido “impune”. “O arquivamento é como uma carta branca para esse tipo de discriminação contra a mulher. Nesse caso parece mais uma perseguição, então providências serão tomadas em todas as esferas necessárias, administrativa e também no âmbito judicial”, concluiu a advogada.
Outro lado
O deputado Luiz Fernando foi procurado pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa que divulgou uma nota oficial e disse que “em nenhum momento foi discutida a questão de gênero” na entrevista concedida ao jornal. “Defendo e sempre defenderei a participação da mulher na política e em todos os setores da sociedade, bem com repudio qualquer ato de violência ou intolerância”, disse.